terça-feira, abril 25, 2006

Tinha eu 8 anos

A Ditadura Militar instituída em 28 de Maio de 1926 deu origem ao Estado Novo idealizado e gerido por Salazar. Afastado este do poder, por doença incapacitante, a chefia do governo é entregue a Marcello Caetano que, entre outros problemas por resolver, herda uma guerra colonial em três frentes, sem solução militar à vista. Cansados da guerra, os militares profissionais encetam movimentações, acabando por encarar como única saída o derrube do regime pela força.Será o Movimento das Forças Armadas (MFA) que irá desencadear uma revolta militar em grande escala, conseguindo derrubar o regime sem o emprego da força e sem causar vítimas. Na noite de 24 para 25 de Abril, duas estações de radiodifusão lançam para o ar duas canções que irão adquirir um simbolismo particular (E Depois do Adeus, interpretada por Paulo de Carvalho, que soa como uma despedida do governo marcelista, e Grândola, Vila Morena, interpretada pelo poeta banido José Afonso, um conhecido opositor do regime, canção esta que transporta uma mensagem de conteúdo democrático ao evocar a vilazinha de Grândola, onde "o povo é quem mais ordena"), desencadeando as operações militares, superiormente coordenadas pelo major Otelo Saraiva de Carvalho.
Dois momentos de tensão se registam em Lisboa, ambos protagonizados por um jovem capitão de Cavalaria, Salgueiro Maia - um encontro com um destacamento de blindados obediente ao Governo, que por pouco não redunda em acção de fogo, mas que se resolve quando as tropas envolvidas se colocam às ordens de Salgueiro Maia; outro, horas mais tarde, quando o mesmo oficial manda abrir fogo sobre a parede exterior do quartel da GNR no Carmo, como forma de "persuadir" Marcello Caetano, que acaba por se render ao General António de Spínola, com medo de que o poder "caísse na rua".

7 comentários:

Anónimo disse...

BELO TRABALHO.
ABRAÇO JC

O Bicho disse...

E EU VI! TUDO! EU ESTAVA LÁ!
INESQUECÍVEL PARA MIM.
Aquelas horas de máximo suspense que vivi no Largo do Carmo, mesmo por detrás do Carro de Combate que disparou contra a parede do Quartel.

Anónimo disse...

Também eu lá estava, e fazia parte desse filme.
Sem G3 e apenas com a Roleiflex que a guerra nos distribuia, andei dois dias a saltar de beijo em abraço, fazendo-me sentir, também eu capitão de Abril.
Passaram 32 anos, e eu tinha 23.

Anónimo disse...

Eu tambem me lembro muito bem desse dia, apesar dos meus 7 anos. Foi numa Quinta-Feira, meu pai que na altura trabalhava na já extinta UCAL, fogava às Quintas-Feiras. Meu irmão mais velho, andava na altura na Escola no Cacém ( Gama Barros ) ele mais uns quantos "mitras" da Porcalhota, meu pai assustado pediu a um vizinho que nessa altura tinha carro para o ajudar a buscar o filho, visto nao haver Comboios, e lá deram com ele(s) a caminho, a pé, visto nao terem tido aulas, todos felizes e contentes com as calças à boca de sino e as socas.. Eu pela 1ª vez comi um gelado SuperMaxi da Olá, comprado no Piteira, e passei a tarde desse dia em casa do meu amigo Toninho ( por cima do Rui ) a ver televisão, pois nesse dia optaram por passar as magnificas séries de então, nomeadamente o Daktari.. Acho que são estas historias, que todos nós que de alguma maneira vivemos este dia, podemos honrá-lo em contá-las a quem nao o viveu. Só assim podemos passar o verdadiro testemunho da liberdade, em nome de quem verdadeiramente lutou por ela.. Obrigado.

RS disse...

O Pantas em casa do Toninho e eu todo o dia mais a minha mãe e a minha irmã, em casa do "Tabernas", antiga casa do "Bicho".
Mais uma vez, é uma honra, poder contar com a colaboração de excelentes pessoas, que tecem comentários neste blog. Obrigado.

Anónimo disse...

Sendo eu da geração pós 25 de Abril de 74 só posso agradecer a todos que lutaram para esse dia e a todos os outros que me ensinam o que era antes, o que foi e o que foi depois através dos seus testemunhos. Muito Obrigado!!

RS disse...

Kata, apesar dos teus 23 anitos, tens conquistado a vida "a pulso" e és a única do nosso curso que está a concluír o Mestrado. Não tenhas dúvidas que partilhas do nosso espírito. Em suma; uma Grande Mulher.