quarta-feira, agosto 10, 2011

OS FILHOS



Violência, pilhagem, desemprego, crise...: filhos da mesma política desastrosa.
Sem ter feito nenhum estudo sociológico, nem investigação socio-politico-económica, não sei se o palavrão existe mas fica a ideia expressa, somente com base na minha fraca memória, recordo quando há uns anos começámos a constatar a degradação do nosso ensino e mesmo da desistência da instrução ter discutido com um bom amigo e camarada de mil lutas sobre as consequências que se podiam adivinhar num futuro não muito longínquo.
Sugiro aos que viveram o fascismo e a Revolução de Abril, 19 meses de democracia participava pura, que leiam o que o ensinam aos vossos filhos e netos sobre estes períodos. Juntem isso com o facto de uma em cada três crianças terminam o ensino primário sem saberem ler, nem escrever, nem contar, nem usar as operações aritméticas básicas.
Depois um ensino secundário que percorrem sem terem de saber a sua língua para progredir até quase ao ensino superior (veja-se como muitos dos nossos universitários escrevem, a aberração dos testes de resposta múltipla mesmo nesse nível de ensino superior: não resisto a recordar o recente caso dos magistrados que «alegadamente» copiaram num teste deste tipo).
Um ensino secundário em que as disciplinas são ministradas isoladamente, desintegradas, como se cada área fosse isolada e nada tivesse a ver umas com as outras. E a amêndoa amarga no topo desta salada de frutas chocas: a Filosofia não é obrigatória nem para os candidatos a esta área no ensino superior: como se aprender a pensar e a debater cada um dos problemas e todos os problemas não fosse necessário para o desenvolvimento de cada um de nós e, por conseguinte, da sociedade e do País. Que medo têm os mentores deste ensino da Filosofia? Será da Algoritmia, do aprender a pensar?
Para agravar, nas últimas décadas temos assistido a um «apagão» da história, de modo a descontinuar os saberes e as experiências sociais e civilizacionais dos povos; o que no nosso canto do planeta se acentuou na última década com o ataque às instituições e profissões de referência na nossa sociedade: Tribunais; Forças de Segurança e seus agentes, Escola e respectivos professores; Forças Armadas e os militares; Os valores da disciplina; da autoridade; da honestidade, da solidariedade; do altruísmo; do patriotismo, bem como as suas referências têm sido anulados.
Assistimos à desconstrução das seculares sociedades, e a sua substituição por outras descontinuadas, com valores degradados, sem referências sãs. A disciplina foi substituída pelo desleixo do “deixa andar”, a autoridade pelo desrespeito familiar e social, a honestidade pelo «salve-se quem puder» e «o importante é ser rico, não interessa como», a solidariedade e o altruísmo pelo individualismo e egoísmo mais cruéis, o patriotismo como uma velharia sem sentido num mundo global.
Ao jovem, como referência comportamental e de inspiração, em vez de um cidadão marcante na história da humanidade (que deixaram de estudar...), é dado um qualquer jovem futebolista milionário ou o chefe do grupo de malfeitorias do bairro.
Tudo isto para formar seres ignorantes, mas convencidos do contrário, que não conseguem raciocinar e estabelecer as ligações entre a precariedade que lhes é imposta, com o voto que lhes é pedido a seguir. Jovens que entram no mercado de trabalho, capazes de algumas execuções parcamente especializadas, mas incapazes entenderem um discurso político que lhes rouba o futuro, votando mesmo nele, colocando a cabeça do cepo e tornando-se cúmplice do seu aniquilamento social e cultural.
E o que tem isto a ver com a violência em Paris, Atenas, Oslo, Londres... e sempre nos EUA? Não sei bem, mas ao ver as imagens de bairros ingleses a arder, recordei as políticas da «dama de ferro», a ex-primeira-ministraTatcher, e fiz esta associação. Que me desculpem os especialistas de sociologia, pedagogia e outras disciplinas afins se acharem que andei a lavrar em terrenos alheios e “se o sapateiro ousou ir além da sua chinela”, mas tive de partilhar convosco estas notas.
Domingos David’ Pereira – Benavente, 10 Agosto de 2011