
Olá dona Maria de Jesus. Olá Mariana.
Olá Professora Joana! Exclamou Jú, enquanto Mariana se envolvia num tremendo abraço de saudade com a sua ex-professora (que tinha sido a sua preferida no ano passado).
Mariana, continuas a mesma menina meiga que eu conheci! Disse a professora Joana após um grande beijo e uma lágrima no canto do olho.
E a Sra. Doutora como está? Já não a víamos desde que mudou de escola, há seis meses! Olhe Doutora, este é o meu marido, João – muito gosto professora Joana - e este o meu filho, Bernardo – olá Sra. Professora.
Então a Doutora pregou-nos a partida de deixar os nossos meninos, que gostavam tanto de si hã!
Hã!!! Pois.
Mas também não a podemos criticar, arranjou uma escola melhor provavelmente! A vida é mesmo assim, tentamos sempre melhorar!
Mais ou menos, isto é, não é bem assim.
Oh Doutora! Não me diga que arranjou um belo emprego na administração de uma grande empresa e deixou de dar aulas? Na verdade, ser professor hoje em dia é um trabalho desgastante, perigoso e dizem até que mal pago!
Sim e não! Retorquiu Joana.
É verdade que deixei de dar aulas porque o Ministério da Educação me dispensou, mas não arranjei esse emprego de administradora. Na verdade, para além de vos cumprimentar com todo o gosto e saudade, estou aqui para vos perguntar o que desejam para o lanche.
Como????????? Indagou Maria de Jesus, incrédula.
A Doutora – que foi professora da minha filha, e uma boa professora, está aqui a servir às mesas neste café?
Mariana – que entretanto se apercebeu da situação – desatou a chorar, numa sensação mista de tristeza e pena da professora, ao mesmo tempo que perguntava a Jú – mas mãe a professora Joana é empregada de mesa? Então mas uma professora pode fazer isso? Mas porquê?
Era algo inconcebível no pensamento da pequena Mariana. A sua professora que tanto lhe tinha ensinado sobre como escrever e falar bem a Língua Portuguesa estava agora ali, de uniforme de empregada de mesa.
Professora Joana, dizia uma Jú lacrimejante, não leve a mal, mas não conseguimos ficar aqui nem mais um minuto. Desejo-lhe muito sinceramente melhor sorte!
Despediram-se assim da professora/empregada de mesa Joana, enquanto esta se desfazia em lágrimas, também num misto de sensações de vergonha e tristeza.
Para a pequena Mariana a visão da escola e dos professores nunca mais foi a mesma. Durante o resto desse ano escolar foi a aluna mais amarga e mais indisciplinada da sua classe.
Nota: Esta é uma história de ficção, inspirada numa reportagem da TSF, em 21 de Janeiro de 2008, sobre os professores e os licenciados desempregados, em Portugal.
4 comentários:
Quantas Joanas haverá por aí?
Quantas Manuelas,Fátimas, Irenes?
Mal vai o país que serve cultura na bandeja duma letrada.
Benditas as Joanas que não atiram a toalha ao chão e vão em frente. Onde quer que haja dignidade aí estará uma Joana.
Ó Rui.. explica-me lá isto melhor como se eu fosse muita Burro Não percebi
É assim que se desperdiçam anos de investimento do Estado e das famílias.
Somos mesmo um país rico!
Se não percebeste é porque o epíteto (que te auto atribuíste) te fica mesmo bem, ó anónimo!
Enviar um comentário