Estatuto do aluno: PS recua e passa a admitir reprovação por excesso de faltas.
Público 01.11.2007 - 09h37 Margarida Gomes, Filomena Fontes
Público 01.11.2007 - 09h37 Margarida Gomes, Filomena Fontes
Não sei se a ideia inicial, em tese, seria boa.
Sei que sou professor numa escola profissional que recebe alunos do sistema de ensino técnico profissional do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) e observo que 95% dos quais são maiores de idade, que recebem bolsa do IEFP para estudar e mesmo assim cerca de 20% atingem o limite de faltas, 60% não se esforça para obter conhecimento e 20% só se preocupa em obter a nota suficiente para passar de ano. Serão estes alunos preguiçosos e burros? Preguiçosos sim, burros não. Burros não porque eles sabem que o sistema não os quer na rua ou na prisão (onde alguns estavam antes de ingressar nestes cursos). O sistema quer que permaneçam ocupados mesmo que não aprendam grande coisa. Eles sabem igualmente que, quando têm nota negativa no final de um período, o professor é obrigado a ministrar aulas e efectuar testes de recuperação (neste sistema, o professor ganha à hora e estas aulas não são pagas) e se o aluno continuar negativo terão de haver mais aulas e testes de recuperação e se continuar negativo, a situação será analisada pela escola e como esta recebe dinheiro do IEFP enquanto o aluno a frequentar, este passa administrativamente. E os alunos sabem disto (alguns são filhos ou conhecidos de funcionários do IEFP).
Onde é que tudo isto “entronca” com a notícia, referida no Público? Na questão da responsabilização de alunos e PAIS. Estes já sabem que os Governos querem aumentar as taxas de sucesso escolar a “todo o custo”, a fim de melhorar as estatísticas “para UE ver”, mesmo que estejamos a criar técnicos sem capacidade de executar uma profissão e a preparar iletrados para entrarem nas universidades. Ou seja, estamos a criar uma enorme mentira que o país mais cedo ou mais tarde vai pagar, se é que não está já!
Também nesta matéria continuamos no país do “faz de conta”.
PS: sobre esta e outras matérias, aconselho a leitura do livro de Medina Carreira e Ricardo Costa “O Dever da Verdade”.
2 comentários:
Mas pelo que dizes, o sistema anterior também não funciona. Então, qual é a solução?
A solução ultrapassa o âmbito da escola. A escola está transformada em albergue de todos os problemas sociais do país. A escola é:centro de ensino, de correcção, de prisão, de segurança social e de ocupação de tempos livres. O país tem de arranjar soluções para problemas que não respeitam à escola deixar a esta o papel do ensino. E neste particular o país (todos nós) tem de decidir se quer um ensino exigente, que forneça às pessoas competências para vingar num mercado de trabalho e numa concorrência empresarial cada vez mais competitivos e globalizados.
Para isso é necessário responsabilizar cada vez mais alunos e principalmente, os pais. Mas também existe o problema das zonas socialmente problemáticas (que são mesmo muitas), em que os pais não têm controlo sobre os filhos e estes "desviam-se". E aqui, como os sistemas; de segurança social, judicial, criminal e prisional não dão resposta a este tipo de problemas, o estado segue o caminho mais fácil - tentar manter estas pessoas no sistema de ensino o maior período de tempo possível, atirando professores, conselhos de administração escolares e bons alunos "às feras", em que tudo e todos saem a perder.
A solução passa portanto pela responsabilização, exigência e rigor. Os que não quiserem aproveitar (e têm de perceber isso), têm de sair deste sistema e enfrentar o mercado de trabalho sem qualificações. Quando sentirem falta delas, então sim, poderão entrar num sistema de "Nova oportunidade" - tal como eu fiz, que comecei a trabalhar aos 13 anos, continuei a estudar à noite e concluí uma licenciatura. Os que não quiserem, têm o sistema da emigração, o sistema da pobreza, o sistema prisional, ou o euromilhões, etc.
E isto não é segregação, é justiça e verdade. Segregação é o que já acontece actualmente, em que os pais que querem os filhos com um bom sistema de ensino, têm de os colocar nas escolas privadas, essas que aparecem no topo dos "rankings".
Esta é, em minha opinião, a premissa para se chegar a uma solução!
Enviar um comentário