terça-feira, julho 14, 2009

TROPA FANDANGA

Eleições europeias, dia seguinte: o Governo congela totalmente a Lei de Programação Militar. Nada transpira, ninguém se incomoda. Como vai ser?

Resumindo e concluindo, o partido que forma o Governo perde as eleições - do que só se pode queixar de si próprio - e quem paga as favas (mais uma vez...) é a Instituição Militar. Até quando?

Aliás, as Forças Armadas não param de ser desagregadas e demolidas. As leis sobre a nova organização são uma perda de tempo, pois, para além de não resolverem nenhum dos muitos e prementes problemas que afligem o meio militar, ainda vão abrir mais brechas na coesão das forças. É um acto falhado por escusado. Com o RDM ainda é pior: depois de as forças políticas terem acabado com a Justiça Militar, vão subverter a disciplina. É difícil fazer pior em qualquer parte do mundo. Só pode haver uma razão: ser de propósito!

A fragata Côrte-real e todos os que nela navegam andam a fazer figura de "ursos". Perseguem piratas, prendem-nos, arriscam-se a levar uns tiros e depois soltam-nos. O comandante da Armada já disse que era preciso criar leis apropriadas (deveria ter sido o Conselho de Chefes a fazê-lo...). Do Governo, Parlamento e PR, nem pio. "No pasa nada!"

O segundo submarino (Arpão) foi lançado à água em Kiel. O sr. Ministro da Defesa foi lá incógnito. No portal do ministério, nem uma linha. Para a comunicação social, idem. Isto é, o Governo assume um compromisso importante relativo à Defesa Nacional, mas tem vergonha de o assumir e defender. Alguns ministros são até contra. Publicamente. Muito edificante.

Que se passará no Instituto de Defesa Nacional? Quase todas as semanas há um quadro da casa que pede para abandonar funções. O último foi o próprio subdirector, que nem aqueceu o lugar.

O senhor ministro já descobriu a raiz do problema, assobia para o lado ou vai insistir que as coisas continuem a quebrar pelo lado mais fraco? O IDN já não faz falta e também é para acabar?

Património militar ao desbarato

Pressionam constantemente o Exército (sobretudo o Exército) para alienar património à sua guarda, normalmente a fundo perdido. A apetência autárquica e regional por estes "bens" não conhece peias e a ganância da especulação imobiliária parece não ter limites. Vá-se lá saber por que bulas as FA e sobretudo o Exército vão dando tudo de mão-beijada, sem serem ressarcidos de quase nada e sem um ... ai. Depois passa-se um pouco de tudo. Por exemplo, as instalações da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, foram libertadas pelo Exército no prazo combinado - a tropa cumpre. Como não apareceu ninguém para ficar com as chaves, o Exército ficou com elas - sempre pronto a cumprir a missão e a carregar com os sacrifícios! - e ainda manteve sentinelas. Até que um general mais avisado e corajoso entendeu (e bem) que a situação já tinha ultrapassado o que permitia o regulamento e retirou a guarda. Foi um ver se te avias, as instalações foram assaltadas diversas vezes e tudo roubado. Parece que nalguns casos a coisa tomou foros de organização em forma. Falta agora proceder de igual forma para com as ex-instalações militares de Elvas (que deviam ser um museu vivo, à falta de melhor sorte), para cuja segurança o Regimento de Cavalaria de Estremoz tem de destacar permanentemente um pelotão. Doce país. Ali para os lados de Alfragide, o Comando da Força Aérea está, por seu lado, à beira de um ataque de nervos. Então não é que mais três coronéis pilotos-aviadores vão passar à reserva, justamente agora que iriam comandar bases aéreas? E eram dos mais resistentes. O que fará um oficial de carreira querer trocar um comando de base por umas funções menores, desfasadas em grande parte daquilo a que estão habituados e se preparam durante tanto tempo? Toda a gente sabe estas respostas, mas ninguém as diz oficialmente. E não se consegue enviar um médico para o Afeganistão. O primeiro, isto é, a primeira a ser nomeada, arranjou maneira de concorrer às próximas eleições e passou à reserva. As duas seguintes pediram abate ao quadro e têm de pagar cerca de cem mil euros cada, de indemnização. Consta nos “mentideros” que quem vai pagar a conta vão ser os hospitais onde as duas oficiais médicas (ou será que se julgam só médicas?) estão a tirar a especialidade à custa da FA [Força Aérea] (!), pois pretendem que elas fiquem a trabalhar para eles. Conhecem algum adjectivo para qualificar este "negócio"?

Quem paga é o Zé-povinho...

E para quando a AR vai mudar a lei que obriga os militares a passar à reserva para poderem concorrer a eleições, que tem sido usada para vigarices do foro pessoal e profissional, ao passo que é uma lei discriminatória para os militares, já que são a única classe profissional em que os seus servidores são obrigados a abandonar a carreira para se dedicarem à política. Será que também é de propósito? À atenção, outrossim, das Associações de Militares.

Enquanto tudo isto se passa, o que faz o senhor pequenino que ostenta o título de ministro da Defesa? Pois, olhem, foi recentemente em visita oficial a Luanda com meia dúzia de acompanhantes num Falcon da FA. Pararam, à ida, em Acra para pernoitar, presumo que o Falcon não faz directo a Luanda, só pode. Pediu em seguida uma audiência ao Presidente angolano, uma audiência que este não lhe concedeu, não interessam para o caso as razões (ou será que interessam?). Sabe-se que a comitiva decidiu antecipar a vinda para Lisboa, mas em vez de voarem de Falcon, meteram-se num avião da South Africa Airways, quero crer que em turística. O Falcon, esse, pernoitou em Luanda e veio no dia seguinte… vazio. Eu por mim não quero ajudar a pagar esta viagem do senhor ministro. E vocês, ó contribuintes?

Será que é por estas e por outras que os nossos queridos representantes parlamentares querem diminuir as competências do PR em matéria militar?

Será que o consignado na nova proposta de RDM, prevendo a punição de militares na reserva e reforma, se destina também a impedir textos com este de serem publicados?

Tenente-coronel Piloto-aviador (reformado)

in Diabo14 de Julho de 2009

Sem comentários: