quarta-feira, agosto 11, 2010

23 DE NOVEMBRO DE 2006


Passados três anos e meio, ainda há militares a sofrer represálias, de forma ILEGAL, por terem participado neste passeio, nomeadamente eu!
Trata-se de um processo digno da literatura de Franz Kafka.



SINAIS



“Foi o escritor búlgaro Ivan Krasten quem, na linha de outros, previu o século XXI caracterizado como um século antiamericano, uma visão talvez marcada pelo facto de a guerra fria, que foi a do seu tempo, recolher do Leste submetido ao sovietismo aquela identificação do inimigo. Os factos são, porém, mais acentuadamente antiocidentais, uns porque se filiam na memória da submissão colonial, outros porque a debilitação do Ocidente parece incitar poderes emergentes a incluir no seu ambicioso projecto político tomar a hegemonia que escapou aos poderes com passado e incerto horizonte.
A queda do Muro de Berlim multiplicou esperanças desordenadas das sociedades, sobretudo da americana, mas as desilusões e desastres que se agravam nesta entrada do milénio desafiam e minam em primeiro lugar a confiança sem a qual nenhuma estrutura política perdura, abrem caminho, já longamente anotado pelas análises, à contrademocracia, com a cena mundial marcada pelas guerras por vezes condescendentemente chamadas civis, e, muitas vezes religiosas, étnicas, ou apenas modo de vida, cobrindo a Ásia, o Médio Oriente, a África, e assim por diante. Por vezes, estão aliados aos excessos de força militarizada, com a sua expressão esdrúxula no terrorismo, abusos e desvios no uso dos meios de comunicação, no sentido de fazer ruir as bases do património imaterial que articula as sociedades civis, substituindo os valores fundamentais das diferentes áreas culturais por um relativismo que substitui o seu ordenamento, e a sua validade, por uma soma calculada e tornada directiva das ambições e dos interesses sem limitações derivadas das exigências do bem comum.
Esta evidente crise da área ocidental, que aconselha solidariedades e devoções apenas possíveis se um património imaterial de valores partilhados guardar a evidência de que se trata de uma sociedade bem identificada em situação de desafio e riscos globais, está ao mesmo tempo a dinamizar, com formas novas, o regresso dos demónios interiores que no passado levaram a duas guerras chamadas mundiais, mas guerras suicidas dos ocidentais. Neste caso, se não despertarem uma nova vontade e decisão, a narrativa da unidade europeia será posta em revisão, os egoísmos soberanistas voltarão a ser reverenciados, as múltiplas fronteiras europeias e ocidentais tenderão para ser definidas, não pela cultura, mas pela linha divisória entre regiões com perspectivas de crescimento e regiões decadentes, de tal modo que a geografia da fome, que inquietou a época que se seguiu à descolonização e teve como ponto de referência sobretudo a África, se vai expandindo para norte do Mediterrâneo. Algumas actuais esporádicas manifestações dos países europeus, que sempre tenderam para não esquecer o directório de preocupante memória, não é para a igualdade do incerto modelo federalista que parecem dar sinais de preferência, mas para o retorno a uma salvaguarda de liberdade soberana que limita a sua responsabilidade europeia, aumenta a ambição de protagonismo que pensam facilitar o regresso solitário à estabilidade do modelo nacional de crescimento, e até à posição hegemónica na hierarquia redefinida das potências.
Não é necessário enumerar os governos cujos sinais chamam a atenção para esta encruzilhada de perigosas escolhas, mas é necessário meditar sobre o facto de que o abandono ou enfraquecimento do sentido e vontades da unidade europeia e ocidental é a porta aberta para o regresso dos demónios interiores que muitas vezes conduziram os poderes europeus para o desastre, e que agora definitivamente destruiriam a esperança que animou a reconstrução material e a recuperação da dignidade internacional depois da paz coberta de lágrimas de 1945 e das esperanças suscitadas pela queda do Muro de Berlim.
Um compasso de meditação, uma leitura humilde dos textos dos grandes líderes da unidade, uma consciência assumida dos erros cometidos nas últimas décadas e uma corajosa escolha de lideranças apenas comprometidos com a exemplaridade fazem falta ao futuro europeu.”
ADRIANO MOREIRA, Diário de Notícias, 10 de Agosto de 2010

Os movimentos sociais são por vezes cíclicos. Os sinais abundam. É melhor irmo-nos preparando!

segunda-feira, agosto 09, 2010

AS MINHAS MÚSICAS - 4





Estas são, a música e a banda da minha eleição. Apesar de a mensagem original estar desactualizada. A minha geração e a anterior trataram de inverter radicalmente a situação, ao ponto de, actualmente, serem os professores (não é só em Portugal) o “elo mais fraco” da cadeia de ensino. Portanto, o novo refrão deveria ser: “Hey politicians and kids, leave the Teachers alone!”

RAP - VISÃO



O QUE HÁ NUM SÓCRATES

O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo. (...)
Visão, Quinta-feira, 5 de Agosto de 2010. http://clix.visao.pt/o-que-ha-num-socrates=f568310

quinta-feira, agosto 05, 2010

A MINHA PRIMA L.



O meu pai há uns anos teve uma paralisia facial e levei-o ao Hospital Amadora-Sintra. Ao fim de meia-hora estava cá fora com receitas que aviámos na farmácia de serviço e passadas poucas semanas o meu pai tinha a face normalizada, como ainda hoje tem.

O meu Pai teve Sorte!

A minha Prima L. está internada no Hospital de São Francisco de Xavier, para onde foi enviada e operada de urgência, do Amadora-Sintra e está paralisada nos membros inferiores. A minha Prima L. andou um ano em consultas, no Hospital Amadora-Sintra, a queixar-se de dores nas costas e a médica dizia-lhe que era uma luxação e insistia em receitar-lhe pomadas (literalmente). Até ao recente dia (um mês) em que deixou de sentir as pernas, caindo desamparadamente, em casa. O marido da minha Prima L. foi fazer perguntas à médica que lhe receitou pomadas durante um ano e esta respondeu com ar espantado: "Mas ela quando cá veio da última vez, veio a andar!" (literalmente).

A minha Prima L. teve azar!

Eu, qualquer dia, transformo-me num Justiceiro!

AS MINHAS MÚSICAS - 2

quarta-feira, agosto 04, 2010

PROJECTO ESPACIAL PORTUGUÊS

Projecto espacial português
Todos os dias passo naquela rua e todos os dias há um cheiro a mijo, ácido como uma fuga nuclear, que desarranja as entranhas e a tolerância de qualquer um. Quando ajudei uma turista e a sua família a encontrar o caminho certo, falando orgulhoso da cidade, disse, ao passar pela rua urinol, “Desculpe”, e puxei a T-shirt para o nariz, envergonhado, explicando-lhes como se atravessa o vapor tóxico sem náuseas. Os portugueses têm uma péssima noção do espaço do outro. No autocarro ficam apertados no espaço da frente e, no momento de sair, precipitam-se para as portas antes do tempo, empurrando como se alguém tivesse gritado: “Fogo!”. Na plataforma do metro as pessoas querem entrar antes dos passageiros que saem. No lado esquerdo das escadas rolantes, que deve ser para quem caminha depressa, há sempre uma aventesma parada e com sacos a entupir a passagem. Os passeios são mais um exemplo do desastroso projecto espacial português – carros estacionados que obrigam os peões a andar na estrada, pessoas a conversar no meio da calçada ou grupos de amigos que avançam lado a lado e lentamente como numa manifestação sindical, criando uma barreira para quem vem atrás. Não quero ser o justiceiro espacial, mas quando ontem vi um homem de meia-idade a mijar, durante a hora de almoço, na tal rua wc, tive de o alertar. Disse-me: “Mete-te na tua vida” e “És parvo”. Quis dar-lhe um soco nos dentes. Não dei.
Mas fiquei com a certeza que um povo que se está a cagar (ou a mijar) para os outros se arrisca a ter um país latrina.
Hugo Gonçalves, escritor, Jornal i, 4 de Agosto de 2010, “Crónica Dia-a-Dia”, pp 7.