O Processo apresenta ao leitor a narrativa carregada de uma atmosfera desorientada e avulsa na qual o personagem Josef K. está imerso. Tal atmosfera deve-se mormente à sequência infindável de surpresas quase surreais, geradas por uma lei maior e inacessível, que está no entanto em perfeita conformidade com os parâmetros reais da sociedade moderna. O absurdo presente em toda obra é o ponto de partida, sem conclusão, da confusão que se desenrola na mente de Josef K., assim como em todos os ambientes reais nos quais ele está inserido, o que dá ao leitor a sensação incómoda própria do estilo da obra kafkaniana.
Nesse romance, a ambiguidade onírica do peculiar universo Kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. A acção desenvolve-se num clima de sonhos e pesadelos misturado a fatos corriqueiros, que compõem uma trama em que a irrealidade beira a loucura.
Ao analisar O Processo, se faz necessário notar que o fim do romance, a cena da execução, foi a primeira parte escrita por Kafka. K. nunca é informado por que motivos está sofrendo o processo, e ele mantém sua inocência quase até o fim. Ao declarar sua inocência, K. é perguntado "inocente de quê?". Talvez o processo contra K. tenha sido instaurado por sua incapacidade de confessar sua culpa, e, por conseguinte, sua humanidade. O tema, largamente explorado por Kafka em toda sua obra, da não-humanidade torna o livro actual, provocando questionamentos dos costumes e crenças arbitrários da vida, que podem parecer, sob certo aspecto, tão bizarros quanto os acontecimentos da vida de K.
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