quinta-feira, março 25, 2010

OS SARGENTOS E A REPÚBLICA


"A contribuição dada pelos sargentos e praças, embora ainda pouco conhecida, para a implantação da República, foi muito importante para não dizer determinante.
Essa contribuição foi dada, não só no Porto, na Revolta do 31 de Janeiro de 1891, precursora da República, mas também na preparação das forças republicanas e, sobretudo, na luta que se travou, no dia 4 e madrugada de 5 Outubro de 1910.
Os oficiais republicanos, com a excepção honrosa  do comissário Machado dos Santos, abandonam o combate, quando, na Rotunda, recebem a notícia do suicídio do Almirante Cândido dos Reis.
Foram os sargentos e praças, com coragem e determinação exemplares que, ao resistirem, impediram a derrota das forças republicanas e, mesmo ali, graduam Machado dos Santos em 2º tenente, entregam-lhe o comando e, conjuntamente com o Povo que os rodeava, passaram ao combate, juntando-se aos outros combatentes, derrotando a Monarquia e levando à vitória da República, no dia 5 de Outubro de 1910."

sábado, março 13, 2010

PORTUGAL PORTUGUÊZ

A corrupção do Estado (Vasco Pulido Valente)
A entrevista que João Cravinho deu na última quinta-feira é indispensável para perceber a corrupção. Cravinho diz duas coisas de uma importância crucial, em que esta coluna tem de resto insistido. Primeiro que o grosso da corrupção "se faz", com uma ou outra "entorse" imperceptível, "de acordo com a lei". Segundo, que por isso mesmo a polícia e os tribunais não podem ir longe e só se ocupam de casos menores. No fundo o Apito Dourado e operações do género são um espectáculo, que esconde os crimes de consequência. Com grande coragem, Cravinho explica qual é o problema: e o problema é o de que certos lobbies se apoderaram de "órgãos vitais de decisões" do Estado ou dos departamentos que as preparam. Ou, se quiserem, o de que o Estado se tornou o principal agente de corrupção.
Isto significa que o Estado serve, não o interesse do país, como compreendido por este ou aquele partido, mas sim o interesse do lobbies com mais poder ou influência. E, no entanto, nunca se fala disto, embora toda a gente o saiba ou suspeite, a começar pelo Presidente da República, porque os "negócios" conseguem inspirar um respeito e um temor que, por exemplo, o futebol não consegue e que manifestamente coíbem a imprensa e a televisão. O que se passa no interior de certos ministérios de que depende a orientação da economia nunca chega à rua. Como nunca chega à rua quem perdeu e ganhou com os "projectos", que o Estado autoriza ou financia. Ou quem é e donde vem o impecável pessoal que manda nisso tudo. Ainda anteontem o dr. Cavaco exigiu novas leis para assegurar o que ele chama a "transparência da vida pública". Infelizmente, novas leis não bastam.
Cravinho descreve o "choque" que sofreu com a complacência do PS perante a corrupção do Estado. Sofreria com certeza um "choque" igual, e talvez pior, no PSD. A verdade é que o "bloco central" se fundiu com o Estado. Não existe um Estado independente do "bloco central" e muito menos dos "negócios", que o apoiam e sustentam: da banca e da energia a quatro ou cindo escritórios de advogados. Cravinho, como Cavaco, não percebeu, ou preferiu omitir, que hoje não se trata de reformar uma parte inaceitável do regime, mas pura e simplesmente de mudar o regime. Se por acaso caísse do céu a "transparência" que o dr. Cavaco deseja, metade da primorosa elite do nosso país marchava para a cadeia como um fuso.
Vasco Pulido Valente Público 07 de Outubro de 2007

terça-feira, março 02, 2010

O PROCESSO / DER DIENSTSRAFVERFAHREN

O Processo (Alemão: Der Prozess) é um romance escrito pelo escritor checo Franz Kafka, e conta a história de Josef K., personagem que acorda certa manhã, e, sem motivos sabidos, é preso e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não revelado.
O Processo apresenta ao leitor a narrativa carregada de uma atmosfera desorientada e avulsa na qual o personagem Josef K. está imerso. Tal atmosfera deve-se mormente à sequência infindável de surpresas quase surreais, geradas por uma lei maior e inacessível, que está no entanto em perfeita conformidade com os parâmetros reais da sociedade moderna. O absurdo presente em toda obra é o ponto de partida, sem conclusão, da confusão que se desenrola na mente de Josef K., assim como em todos os ambientes reais nos quais ele está inserido, o que dá ao leitor a sensação incómoda própria do estilo da obra kafkaniana.
Nesse romance, a ambiguidade onírica do peculiar universo Kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. A acção desenvolve-se num clima de sonhos e pesadelos misturado a fatos corriqueiros, que compõem uma trama em que a irrealidade beira a loucura.
Ao analisar O Processo, se faz necessário notar que o fim do romance, a cena da execução, foi a primeira parte escrita por Kafka. K. nunca é informado por que motivos está sofrendo o processo, e ele mantém sua inocência quase até o fim. Ao declarar sua inocência, K. é perguntado "inocente de quê?". Talvez o processo contra K. tenha sido instaurado por sua incapacidade de confessar sua culpa, e, por conseguinte, sua humanidade. O tema, largamente explorado por Kafka em toda sua obra, da não-humanidade torna o livro actual, provocando questionamentos dos costumes e crenças arbitrários da vida, que podem parecer, sob certo aspecto, tão bizarros quanto os acontecimentos da vida de K.