segunda-feira, novembro 30, 2009

NÁUTICO


Nasceu o "NÁUTICO", um blogue inspirado na obra "Glossário Náutico" de Rui Salvador, com 476 páginas e a aguardar publicação.
O autor deseja a todos "Boas Navegações" neste novel blogue.
http://salvador-nautico.blogspot.com/

sábado, novembro 14, 2009

A MÁ GENTE SOMOS NÓS

(…) Os depoimentos que tenho escutado, na Assembleia da República, são por vezes assombrosos: há falhas de memória exibidas com um talento que só podem ter os verdadeiros artistas profissionais!

Devo mesmo confessar-lhe que este tipo de problemas – e outros protagonizados pela nossa abundante «elite» - já nem me prendem muito a atenção: depois da «colheita» de muitos milhões, viremos a saber que todos ou quase todos foram gente impoluta, vítimas da nossa desconfiança tradicional e da nossa secular inveja social!

A presunção de inocência é um detergente que põe tudo «branco», como já nos habituámos.

A má gente somos nós que não roubámos e que apenas desconfiamos dos que, pobres há quinze anos, tiveram capacidade para enriquecer sem sequer saberem como.

Pior ainda: somos mal-agradecidos.

Só nos resta a consolação de termos essa desprezível característica que é a seriedade. (...)

CARREIRA, MEDINA, DÂMASO, EDUARDO, Portugal que Futuro? pp. 55, Editora Objectiva, 4.ª Ed. Setembro 2009, Carnaxide.

sexta-feira, novembro 13, 2009

O CEO

"Face Oculta

Sócrates mentiu ao Parlamento sobre a TVI.

As escutas do processo ‘Face Oculta’ provam que o primeiro-ministro faltou deliberadamente à verdade quando disse no Parlamento que desconhecia o negócio da compra da TVI pela PT, avança a edição do SOL desta sexta-feira.

Por Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita

Comentários no SOL On-line

Em minha opinião, nos países a sério, o primeiro-ministro é o CEO dos governos e comparável ao CEO de uma empresa com a diferença das dimensões.

Em Portugal, e o problema começa por aí, ele também é, embora indirectamente, o CEO de uma cadeia de TV com dois canais, o CEO de múltiplas empresas do estado, dos dois maiores bancos portugueses (CGD e BCP) não falando no BPN e, também, de algumas das maiores empresas privadas onde, estrategicamente, estão colocados amigos e camaradas.

Nestas circunstâncias, ele não só controla uma parcela substancial da economia portuguesa como também estão lançadas as bases para uma promiscuidade global no país.

00SEVEN, em 2009-11-13 13:08:41

Aqui está tudo dito e resumido. Tudo o resto são cantigas de embalar."

quartocrescente, em 2009-11-13 13:41:56

terça-feira, novembro 10, 2009

PAÍS NULO

Supremo diz que escutas a Sócrates são nulas.

"Supremo Tribunal de Justiça, órgão máximo da magistratura judicial em Portugal, já decidiu decretar a nulidade da certidão envolvendo escutas telefónicas em que aparece o primeiro-ministro José Sócrates.

Segundo apurou o Expresso, a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, presidido por Noronha do Nascimento, baseia-se no facto de as escutas envolvendo o primeiro-ministro terem de ser previamente validadas por um tribunal superior.

De acordo com o noticiado nos últimos dias, o nome de José Sócrates apareceu nas escutas a Armando Vara no âmbito do processo Face Oculta.

Neste processo, em que o pivô é o sucateiro Manuel Godinho, Armando Vara, actual vice-presidente do BCP que suspendeu funções, terá recebido 10 mil euros para facilitar reuniões a Manuel Godinho com altos responsáveis de empresas públicas ou participadas do Estado.

As certidões extraídas do processo e em que aparece José Sócrates foram enviadas para o Supremo Tribunal pela Procuradoria-geral da República.

De acordo com o noticiado, José Sócrates e Armando Vara teriam conversado sobre negócios da área da comunicação social, nomeadamente a venda da TVI por parte da Prisa."

Cristina Figueiredo (www.expresso.pt), 12:52 Terça-feira, 10 de Nov de 2009

quinta-feira, novembro 05, 2009

NOS GRANDES NINGUÉM TOCA

OS INTOCÁVEIS
“O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.

Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.

O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.

Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.”

JN On-line, 2009-11-02