Líder religioso supremo ("ayatollah") e chefe de estado iraniano, Ruhollah Khomeini nasceu em 1900, numa localidade próxima do Teerão, no seio de uma família Shiita. Apesar de ser uma minoria no Islão, o Shiismo é a religião oficial do Irão.
Ruhollah Khomeini significa «inspirado por Deus», um desígnio que acompanhou o líder religioso desde muito cedo.
Apesar da sua dedicação ao Shiismo, Khomeini, tal como o seu pai, trocou os estudos teológicos pela carreira de jurista (Islâmico). Era ainda novo quando se tornou professor de um seminário e o activismo que o viria a caracterizar ainda não era notório. Para poder criticar, Ruhollah Khomeini preferiu, entre 1920 e 1940, observar passivamente a atitude do xá Reza Pahlavi que, à frente dos destinos iranianos, promovia a secularização e a perda de privilégios do Clero.
Nessa altura, Khomeini era discípulo do membro mais alto da classe clerical do Irão, Ayatollah Mohammed Boroujerdi, um defensor da aplicação da religião ao poder. E foi com a morte de Boroujerdi, em 1962, que Ruhollah Khomeini começou a revelar a sua sabedoria e a sua faceta incómoda, conseguindo reunir muitos seguidores, que o admiravam por ser um antagonista de língua afiada ao regime do xá. Ele era o novo "Ayatollah", o novo líder religioso supremo.
Khomeini sentia-se à vontade com a demagogia populista. Denunciou Reza Pahlavi pelos seus laços com Israel, alegando que os judeus se preparavam para invadir o Irão.
Como consequência dos contínuos ataques que fazia ao monarca, Ruhollah Khomeini foi afastado para a Turquia, em 1964, sendo-lhe, depois, permitido instalar-se em An Najaf, a cidade sagrada dos Shiitas, situada no Iraque.
Ao contrário do que o Shah pretendia, Khomeini não foi esquecido. No Iraque, ele recebia iranianos chegados de vários pontos do Médio Oriente, e enviava para o Irão cassetes que continham sermões que eram, depois, ouvidas em bazares. Foi no exílio que Khomeini se tornou no reconhecido líder da oposição ao xá.
Em An Najaf, Ruhollah Khomeini também deu forma a uma doutrina revolucionária. Historicamente, o Shiismo exigia do Estado que se mantivesse aberto a uma orientação religiosa. Todavia, o exilado, condenando o secularismo do Shah e a sua servidão aos Estados Unidos, atacou a legitimidade do regime, apresentando como alternativa um Estado clerical.
No final de 1978 realizaram-se no Irão grandes manifestações de rua que reivindicavam a abdicação de Reza Pahlavi. Estes fenómenos levaram à implosão governamental. Estudantes, a classe média, mercadores, trabalhadores e o exército (os pilares da sociedade) abandonaram o regime. Washington era a única ajuda do xá, que acabou por abandonar o Irão em Janeiro de 1979.
Ruhollah Khomeini, a viver em França por ter sido expulso do Iraque em 1978, regressou ao seu país duas semanas depois e foi recebido em apoteose. Aclamado como líder, confirmou a sua autoridade e iniciou o trabalho de campo que levaria à implementação de um Estado clerical, a república Islâmica. Cancelou uma experiência parlamentarista e ordenou a formação de uma assembleia para elaborar uma constituição Islâmica. Os delegados projectaram um Estado que Khomeini iria comandar e que o Clero iria gerir, reforçando as leis religiosas.
A sua ideologia conservadora opunha-se aos avanços e tendências ocidentais, declarando "guerra" a tudo o que viesse do Ocidente e especialmente dos EUA.
Em 1979, o líder Shiita e um grupo de anti-americanos assaltaram a embaixada dos Estados Unidos em Teerão e fizeram 52 reféns durante mais de um ano.
Na última década da sua vida, Ayatollah Khomeini consolidou o seu poder. As burocracias do Estado estavam na mão do Clero; as escolas e os meios de comunicação social foram inundados pelas suas doutrinas pessoais. Depois de dispensar os serviços militares e os de segurança, reestruturou-os para assegurar a sua lealdade.
Khomeini lançou igualmente uma campanha para, como ele próprio dizia, "exportar" a revolução para os países muçulmanos vizinhos. As provocações que fez neste sentido levaram-no a uma guerra contra o Iraque (1980-1988), que durou oito anos, com o custo final de oito milhões de vidas.
Na altura em que os seus seguidores pareciam mais desmoralizados, instituiu o "fatwa", uma lei que condenava à morte todos os que criticassem o regime. Khomeini aplicou esta lei ao escritor Salman Rushdie pelas supostas heresias contidas na sua obra "Versículos Satânicos", embora até hoje a sentença não tenha sido executada.
Ayatollah Khomeini morreu em 1989, meses depois de ter condenado Rushdie à morte.
© 2004 Porto Editora, Lda.