António de Oliveira Salazar
Político português, nasceu em 1889 em Santa Comba Dão. De família de pequenos proprietários agrícolas, e, como muitos jovens da sua idade e condição social, fez a formação académica em ambiente fortemente marcado pelo Catolicismo, tendo frequentado o seminário durante vários anos. A influência religiosa assim adquirida na juventude nunca mais o abandonaria. Estudante e depois docente na Universidade de Coimbra, teve como colega e grande amigo um sacerdote que viria a ser Cardeal Patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira, ele próprio também docente universitário.
O seu ingresso na política faz-se através do Centro Académico da Democracia Cristã (CADC) de Coimbra, que constituiu um dos veículos de oposição católica à República liberal. O primeiro marco significativo da carreira política de Salazar - que viria a revelar-se excepcionalmente longa - é justamente a sua eleição como deputado católico para o Parlamento republicano, em 1921; compareceu apenas a uma sessão da Câmara dos Deputados, sem fazer qualquer intervenção, e afastou-se em definitivo da cena parlamentar.
Proclamada a Ditadura Militar, na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, Salazar exerce por poucos dias o cargo de ministro das Finanças, que prontamente abandona por divergências de fundo com os generais. Regressa em 1928, para as mesmas funções, mas nas suas próprias condições: é, na realidade, um super ministro com poderes para desenvolver uma política rigorosa de controle da máquina do Estado, condição indispensável para o combate à crónica crise financeira nacional. O seu êxito neste campo solidifica a sua posição, de tal modo que ascende em 1932 à chefia do Governo, onde se manterá até 1968.
Em 1933, após fazer plebiscitar uma nova Constituição, enceta a construção de um Estado autoritário (o Estado Novo), com semelhanças nalguns pontos com a Itália de Mussolini. Salazar foi durante décadas o denominador comum de todos os governos constituídos em Portugal, reservando para si a chefia do Executivo e, em momentos de crise, assegurando a pasta da Guerra, do Interior ou dos Negócios Estrangeiros. Alimentando uma imagem paternal de dirigente dedicado exclusivamente à governação, "casado com a Nação" (e é indesmentível que a sua vida privada deixa de ter significado), acompanha todos os aspectos da vida nacional, dirige ou condiciona fortemente todas as áreas do governo, arbitra conflitos entre os seus próprios apoiantes ou colaboradores mais directos e acaba por deter um poder político efectivo muito mais vasto e indiscutível que os presidentes da República que se vão sucedendo em Belém. Manterá até ao fim da sua vida política a hostilidade ao parlamentarismo, a confiança nas elites iluminadas e nunca altera o discurso fortemente marcado pelo Catolicismo e pelo anticomunismo. Simultaneamente, permanece arreigado a conceitos imperiais na defesa de um Portugal do Minho a Timor, mesmo quando o quadro político internacional sofre transformações radicais e o País se encontra envolvido numa guerra colonial em três frentes. A sua figura simbolizará o regime por ele idealizado, criado e gerido durante décadas - será mesmo a sua figura tutelar, obsessivamente presente, um dos maiores obstáculos à consolidação do seu sucessor, Marcello Caetano.
O Estado Novo criado por Salazar iria sobreviver, com numerosos sobressaltos, à sua morte política (ocorrida num vulgar acidente doméstico que terá como consequência a incapacidade física para continuar no exercício de funções e a perda da noção das realidades) e à sua morte física (que teve lugar em 1970), vindo a cair a 25 de Abril de 1974.
© 2004 Porto Editora, Lda.